terça-feira, 2 de junho de 2009

Braga Cresce,

Cultura Mexe


Cláudia Carvalho
e
Andreia Pereira



Braga, 2015. A agenda cultural desta semana é tão vasta que nem sei onde ir. Aliás, esse tem sido o dilema de todas as semanas. Na terça-feira vou ter de escolher entre o concerto dos Ponytail, no São Mamede, em Guimarães, e a peça de teatro “O sexo dos anjos”, no Theatro Circo, em Braga. A acrescentar, ainda esta semana, tenho o concerto de Art Brut, na Casa das Artes, em Famalicão, e Sonic Youth, no Theatro Circo. Já não me lembro de fazer mais de 20 quilómetros para acompanhar o que de melhor se vai fazendo a nível cultural. Acabaram as viagens aos grandes centros, ou, como se costuma dizer, às grandes cidades. A cultura, agora, está à porta de casa. Qualidade, preços acessíveis e salas cheias é o que mais se encontra! Finalmente, há uma educação para a cultura!


Não é 2015, mas 2009. A realidade não é a que aqui fica retratada em ficção e está ainda muito longe de o ser. Ainda é preciso recorrer às grandes cidades se queremos ver gente. Gente. Porque a verdade é que o número de espectáculos de qualidade no distrito de Braga tem vindo a aumentar, mas o público nem tanto.

Desinteresse, falta de hábitos culturais e comodismo afastam as grandes massas das salas. Neste sentido, o CulturArTe foi tentar perceber até que ponto os estudantes estão informados sobre aquilo que se passa à sua volta. O preço dos bilhetes, a pouca informação e a falta de disponibilidade foram alguns dos motivos invocados pelos alunos para a menor afluência às salas de espectáculos. No entanto, Rui Madeira, administrador executivo do Theatro Circo (Braga), considera que tais situações não passam de desculpas. “As pessoas aqui preferem gastar dinheiro noutras coisas, em vez de comprarem um bilhete para vir, por exemplo, ao Theatro Circo”, explica Rui Madeira. Defensor de uma “educação para a cultura”, aproveita o seu trabalho como encenador na Companhia de Teatro de Braga para desenvolver trabalhos com as escolas numa tentativa de chamar os mais novos para o teatro.

Neste sentido, também a Casa das Artes (Famalicão) tem vindo a apostar nos mais pequeninos. De acordo com Álvaro Santos, director desta casa de espectáculos, “nota-se já uma diferença nos miúdos” que costumam lá ir. “Eles sabem onde estão e gostam de cá estar”, acrescenta. Para o director, esta é uma boa forma de desenvolver os hábitos culturais nas famílias, através das crianças.

No Centro de Artes e Espectáculos São Mamede (Guimarães), esta tem sido a tarefa mais difícil. Como explica Miguel Carvalho, director da casa, “com um projecto novo, torna-se complicado ter orçamento para todas as actividades”. “Workshops para crianças implicam formadores à altura, e formadores à altura apresentam exigências financeiras”, esclarece. Contudo, tal não significa que não exista essa preocupação.

Olhemos agora o panorama da música. De acordo com Miguel Pedro, baterista da banda “Mão Morta”, apesar da pouca oferta de produtos artísticos em Braga, “nota-se nos últimos tempos uma melhoria, fruto de algum crescimento populacional”. Na opinião do artista, esta situação acaba por trazer uma certa “percentagem de qualidade”. A provar isso, está o número de concertos internacionais que tem vindo a aumentar e, por consequência, a adesão aos mesmos. Como revela Paulo Brandão, “nos últimos três espectáculos o Theatro Circo teve casa lotada”. Os concertos de Andrew Bird, no Theatro Circo, e de Alela Diane, na Casa das Artes, a que as repórteres do CulturArTe assistiram, são dois exemplos das ofertas internacionais que têm passado por terras minhotas.

Contudo, os registos nacionais não são esquecidos, preenchendo grande parte das agendas culturais destas salas. A casa cheia num recente concerto dos “Mão Morta” demonstra que aquilo que se faz em Portugal também atrai espectadores.

No domínio do teatro, o cenário não é muito diferente. Os auditórios das casas de espectáculo apenas esgotam quando as figuras conhecidas da televisão sobem ao palco ou quando uma companhia internacional apresenta o seu trabalho. Projectos mais pequenos não têm tanta sorte. A provar isto, estão as três peças de teatro a que o CulturArTe assistiu. Três peças diferentes em três casas diferentes e todas esgotadas. Na Casa das Artes, “Rapariga(s)” contou com a presença de André Nunes, Ana Brandão, Jéssica Athayde, Marta Melro e Núria Madruga, caras conhecidas da ficção nacional. Cláudia Vieira e Luís Gaspar são, por sua vez, os protagonistas de “Saia Curta”. A peça, apresentada no São Mamede, teve duas datas marcadas, ambas com as salas lotadas. Por último, a actriz Ana Bustorff apresentou, no Theatro Circo, “Teatro à la Carte”, tendo esgotado a bilheteira. Este espectáculo vai voltar a Braga com sete novas datas, sinal claro da boa recepção por parte do público.

Os elementos recolhidos em diversos locais sugerem que a actividade cultural no distrito de Braga está mesmo a crescer e cada vez mais se aproxima dos grandes centros urbanos. O titulo de terceira cidade do país ganha sentido quando vemos uma crescente evolução na população. Consequentemente, o nível de cultura, bem como a oferta cultural, tem vindo a subir. Se a tendência parece ser essa, resta perceber se os hábitos culturais das pessoas estão mesmo a mudar.